O que são terras raras?


As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos da tabela periódica, compostos por:
15 elementos da série dos lantanídeos: lantânio (La), cério (Ce), praseodímio (Pr), neodímio (Nd), promécio (Pm), samário (Sm), európio (Eu), gadolínio (Gd), térbio (Tb), disprósio (Dy), hólnio (Ho), érbio (Er), túlio (Tm), itérbio (Yb) e lutécio (Lu).
Mais dois elementos quimicamente semelhantes: escândio (Sc) e ítrio (Y).
Apesar do nome, "terras raras", esses elementos não são exatamente raros na crosta terrestre. O problema é que eles raramente são encontrados em concentrações economicamente viáveis para extração.
As terras raras são fundamentais para a fabricação de tecnologias modernas, como:
- Imãs superpotentes (neodímio, disprósio)
- Baterias recarregáveisTelas de LED e LCD
- Lâmpadas fluorescentes
- Veículos elétricos
- Turbinas eólicas
- Equipamentos militares e espaciais
Como é feita a extração das terras raras?
A extração de terras raras é um processo bem complexo — e um dos grandes desafios para torná-las sustentáveis e economicamente viáveis.
Mineração
As terras raras não são encontradas puras, mas misturadas em rochas e minerais. Os principais minérios são:
- Bastnasita
- Monazita
- Xenotima
- Lateritas ricas em ítrio
A mineração pode ser feita a céu aberto ou subterrânea, dependendo da geologia local.
Beneficiamento
Após a extração, o minério passa por um processo físico para separar os minerais valiosos do material estéril:
- Trituração e moagem da rocha
- Flotação, separação magnética ou gravítica
- Obtenção de um concentrado de terras raras
Separação química (refino)
Essa é a etapa mais difícil e poluente. Os elementos de terras raras são quimicamente muito parecidos, o que torna a separação demorada e custosa.
- Usa-se ácidos fortes (como ácido sulfúrico ou clorídrico) para dissolver os minerais.
- Depois, ocorre a extração seletiva com solventes para separar elemento por elemento.
É aqui que estão os maiores impactos ambientais, pois o processo gera:
- Resíduos tóxicos
- Lama radioativa (especialmente se houver tório ou urânio no minério)
- Risco de contaminação da água e do solo
Purificação e transformação
Após a separação, os óxidos de terras raras podem ser:
- Usados diretamente (óxidos de lantânio, cério, etc.)
- Transformados em ligas metálicas, imãs ou componentes industriais
Principais países produtores de terras raras
Embora as terras raras estejam distribuídas globalmente, a produção é concentrada em poucos países:
- China: líder absoluta, responsável por cerca de 95% da cadeia produtiva mundial de terras raras, incluindo extração e refino. Bayan Obo, na Mongólia Interior, é a maior mina de terras raras do mundo.
- Brasil: possui a segunda maior reserva mundial, com 23% das reservas globais. Minas Gerais, Goiás e Bahia têm grandes jazidas. A região de Araxá (MG) é uma das mais importantes.
- Índia: detém aproximadamente 7,7% das reservas globais, ocupando a terceira posição. Presença no estado de Odisha e na costa sul (Kerala e Tamil Nadu).
- Vietnã: anteriormente em segunda posição, teve suas reservas revisadas, caindo para a sexta posição em 2024.
- Austrália: possui reservas significativas e tem investido em aumentar sua produção para reduzir a dependência da China. Detém a Mina de Mount Weld, uma das maiores fora da China.
Qual a importância das terras raras?
As terras raras são essenciais para a tecnologia moderna — mesmo em pequenas quantidades, elas são fundamentais para o funcionamento de diversos equipamentos do nosso dia a dia e em setores estratégicos como defesa, energia e medicina.
Alta tecnologia
- Imãs superpotentes (neodímio, disprósio): presente em fones de ouvido, HDs, turbinas eólicas e motores de carros elétricos.
- Telas de smartphones, TVs e monitores (itérbio, térbio, europium): usadas para cores mais vivas e alta resolução.
- Lentes de câmeras e lasers (lantânio, praseodímio)
Indústria verde e energia renovável
- Motores de veículos elétricos e híbridos usam imãs com terras raras.
- Turbinas eólicas dependem dessas ligas magnéticas para operar com eficiência.
- Painéis solares também podem conter terras raras para melhorar o rendimento.
Defesa e segurança
- Sistemas de orientação de mísseis
- Sensores e radares
- Equipamentos de visão noturna
- Satélites e comunicações militares
Medicina e pesquisa
- Máquinas de ressonância magnética (gadólínio)
- Luminóforos para diagnósticos médicos
- Aplicações em tratamentos de câncer e estudos com radioisótopos
Importância geopolítica
A importância geopolítica das terras raras cresceu muito nas últimas décadas — hoje, elas são vistas como recursos estratégicos, quase como o petróleo já foi no século XX. Quem domina a cadeia de produção das terras raras tem vantagem econômica e política, pois esses materiais são críticos para várias indústrias. Por isso, países como EUA, China e membros da União Europeia estão investindo fortemente em exploração e reciclagem desses materiais.
A China controla cerca de 60% a 70% da produção global de terras raras, e domina mais de 85% do refino mundial. Isso dá ao país uma vantagem estratégica gigante, pois:
- Exporta para o mundo inteiro, incluindo rivais como EUA, Japão e Europa.
- Já limitou exportações por motivos políticos (ex: disputa com o Japão em 2010).
- Pode usar as terras raras como instrumento de pressão diplomática ou econômica.
Como já citado, as terras raras são essenciais para o desenvolvimento de mísseis guiados, satélites e drones e sistemas de comunicação e inteligência. Isso significa que nenhuma potência militar quer depender de um país rival para conseguir esses materiais.
Transição energética
A transição energética — ou seja, a mudança de uma matriz baseada em combustíveis fósseis para uma baseada em fontes renováveis — depende fortemente das terras raras. Elas são como os “ingredientes secretos” de várias tecnologias verdes.
A descarbonização da economia (carros elétricos, energia solar/eólica) exige toneladas de terras raras. Quem controla a produção:
- Ganha vantagem tecnológica
- Pode dominar cadeias produtivas verdes
- Atrai indústrias de alto valor agregado
Isso coloca as terras raras no centro da competição por liderança na economia verde. Garantir acesso seguro e sustentável a esses elementos virou prioridade nacional para vários países, e é uma chave geopolítica da nova economia limpa.

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Ricardo Casarin
Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.