Instalar energia solar ou investir na bolsa de valores? Veja qual aplicação rende mais

Não existe dúvida que instalar um sistema de energia solar pode trazer altos rendimentos a curto e longo prazos, mas seriam eles maiores do que uma aplicação na bolsa de valores? E na comparação com outros investimentos disponíveis no mercado? 

Com a atual crise financeira e a pesada inflação dos preços no Brasil, os consumidores precisam cada vez mais encontrar formas não só de economizar, mas também de realizar bons investimentos para fazer seu dinheiro render. 

As tradicionais opções do mercado financeiro, como poupança, Tesouro Direto e bolsa de valores nunca foram tão procuradas como agora, assim como a instalação de geradores solares para a autoprodução de energia. 

De 2020 a 2021, o número de conexões de sistemas fotovoltaicos no país, saltou mais de 242%, segundo levantamento feito a partir do banco de dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), um reflexo dos consecutivos aumentos na conta de luz que estão cada vez mais pesados desde 2015, sejam eles causados pela pandemia, falta de chuvas ou ineficiências do sistema elétrico.  

Mas, afinal, qual é a melhor opção de investimento? Continue lendo e saiba a resposta. 

Retorno do investimento em energia solar 

Em primeiro lugar, é preciso entender que a instalação de um sistema de energia solar é um investimento, e não apenas um gasto. 

A economia na conta de luz que você obtém todo mês, e que pode chegar a 95% do valor, é parte investimento que volta para o seu bolso. 

Como o sistema fotovoltaico funciona pelo menos 25 anos (vida útil do painel solar), é possível atingir o payback do investimento em alguns anos de economia e, depois, continuar lucrando com a tecnologia por, no mínimo, mais duas décadas. 

Dessa forma, podemos comparar a aquisição de um sistema fotovoltaico a qualquer outro investimento tradicional do mercado. 

A Taxa Interna de Retorno (TIR) do investimento em energia solar é muito atraente. Sistemas residenciais facilmente ultrapassam a TIR de 15% ao ano, maior que a taxa de juros no Brasil. 

A economia na conta de luz com um sistema fotovoltaico conectado à rede (on grid) é possível graças ao sistema de compensação de energia elétrica criado pela Aneel em sua Resolução Normativa 482, de 2012. 

De forma simples, esse sistema permite “trocar” a energia excedente gerada no dia pela energia consumida da rede durante a noite, quando o sistema solar não produz. No final de cada mês, os créditos gerados abatem o que foi consumido da rede e podem reduzir a conta em até 95%. 

Existem duas principais variáveis que se aplicam ao cálculo do retorno do investimento em energia solar: 

Tarifa de energia 

A tarifa de energia é um valor estabelecido pela Aneel e cobrada dos consumidores atendidos pelas concessionárias de distribuição, precificada em reais por cada quilowatt-hora consumido (R$/kWh). O valor da tarifa é a principal variável no cálculo do payback da energia solar.  

Afinal, quanto mais alto for o preço da energia da distribuidora, maior será a sua economia ao deixar de consumir essa energia. 

Cada distribuidora cobra um preço pela sua tarifa de energia, a qual também é precificada de acordo com cada tipo de consumidor (residencial, comercial, industrial etc.). 

Para entender como o valor da tarifa de energia impacta o retorno do investimento em energia solar, vamos utilizar um cálculo simples. 

Imagine duas residências, A e B, com o mesmo consumo elétrico mensal de 300 kWh, mas localizadas em regiões diferentes e cada uma atendida por uma distribuidora. 

A residência A paga uma tarifa de R$ 1,108, enquanto a B paga R$ 0,804 pelo Kwh. 

Agora, suponha que ambas invistam R$ 25 mil na instalação de um sistema de energia solar capaz de atender todo o consumo mensal. 

Realizando os cálculos, temos que: 

Perceba, então, que quanto maior a tarifa de energia, maior também será a economia e retorno obtidos com o sistema solar fotovoltaico e menor será o tempo de retorno. 

Importante lembrar que esses cálculos são apenas para exemplificar e não levam em consideração outros fatores ligados ao cálculo do retorno em energia solar, como a perda anual de eficiência do painel solar e a inflação energética, que iremos abordar a seguir. 

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Inflação energética (aumento da conta de luz) 

A inflação energética nada mais é que o aumento do preço da energia. Portanto, a lógica aqui é a mesma, quanto mais caro fica a energia, maior é o retorno com o sistema fotovoltaico. 

Como sabemos, os preços da energia no mercado regulado são reajustados anualmente para acompanhar os custos com a produção elétrica em nosso país. 

Porém, nos últimos anos, diferentes problemas do setor fizeram os preços dispararem, tornando a situação cada vez mais problemática para quem ainda depende da distribuidora. 

A principal causa continua sendo os períodos de seca, que afetam os níveis dos reservatórios e impactam a principal fonte de geração do setor elétrico, o que leva o governo a acionar fontes de energia mais caras, especialmente as termelétricas. 

Segundo o levantamento produzido pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), a conta de luz subiu mais do que o dobro da inflação nos últimos sete anos. 

Para 2022, a Aneel já projetou um novo aumento médio de 21% no preço da energia para os consumidores. 

Mas e para quem tem energia solar? 

A situação se inverte, já que a energia que o sistema fotovoltaico produz gratuitamente pela luz do sol passa a ficar cada vez mais valiosa. 

Em outras palavras, se o seu sistema tem potência para produzir 300 kWh/mês, e a sua tarifa de energia passa de R$ 0,80 para R$ 1,00, a sua economia mensal passa de R$ 240 para R$ 300.  

Para entender como o aumento da energia impacta no retorno do investimento em um sistema fotovoltaico, vamos realizar um cálculo simples. 

Considerando um sistema residencial que produz 300 kWh/mês, uma tarifa inicial de R$ 0,80/kWh e uma inflação anual de 8% (o aumento médio residencial no Brasil foi de 16,3% de 2015 a 2021), temos que: 

• Em 25 anos, a tarifa de energia passaria de R$0,80 para R$4,76 pelo kWh; 
• Os 300 kWh que o sistema produz no mês, e que geravam R$ 2.880,00 de economia no primeiro ano, entregariam uma economia de R$17.136,00 no 25º ano. 

Ou seja, a cada ano de inflação na tarifa de energia, também aumenta a economia anual obtida com a mesma produção do sistema. No exemplo, o salto foi de quase seis vezes do valor inicial.  

Aqui também foi utilizado um cálculo simples para fins de exemplificação, que não leva em conta a perda anual de eficiência do painel solar que influencia a produção do sistema e, consequentemente, o seu retorno. 

Planilha de retorno do investimento em energia solar 

Agora, vamos realizar o cálculo completo do retorno do investimento em um sistema de energia solar para poder compará-lo com o investimento na bolsa de valores e outras aplicações do mercado financeiro.

Para isso, é preciso considerar as diferentes variáveis que afetam o cálculo do payback de um sistema fotovoltaico. Em nosso exemplo, vamos considerar os seguintes valores de referência:

• Sistema fotovoltaico residencial de 3,78 kWp; 
• Investimento/custo inicial de R$24.910,78 (pago à vista); 
• Instalado na cidade de São Paulo e capaz de gerar 4.297,32 kWh no primeiro ano; 
• Tarifa inicial de energia de R$0,91;
• Inflação energética de 7% ao ano; 
  

• Perda de eficiência do sistema em 2,5% no primeiro ano e 0,7% nos demais;
  
• Custo anual de manutenção do sistema em 0,5% do investimento, com aumento de 8% ao ano;
• Custo de disponibilidade da rede de 30 kWh (residencial).  
  

Além disso, para o cálculo do payback de sistemas de energia solar on grid consideramos apenas a metade da geração anual do sistema, pois a parcela restante da energia é aquela consumida instantaneamente pelo imóvel e que não passa pela rede elétrica da distribuidora.  

Veja abaixo o cálculo do retorno do sistema durante os primeiros 25 anos de vida útil: 

Vemos, então, que mesmo com as perdas e despesas anuais relacionadas à tecnologia, a economia anual obtida com o sistema cresce substancialmente devido à inflação no preço da energia.

Em nosso exemplo, o sistema fotovoltaico atinge o payback em 5,7 anos de operação e totaliza um retorno financeiro de R$186.971,91 ao final dos primeiros 25 anos de vida útil.

A taxa interna de retorno do investimento no sistema fotovoltaico analisado foi de 20% ao ano.

Energia solar ou bolsa de valores: qual o melhor investimento? 

Agora que sabemos o retorno financeiro real de um sistema de energia solar, chegou a hora de comparar o investimento com outras aplicações financeiras. 

Em primeiro lugar, vamos comparar a instalação de energia solar com um investimento na bolsa de valores. 

Nesse caso, vamos considerar uma taxa média de rendimento de 12% ao ano, como foi registrado pelas ações brasileiras nos últimos 5 anos. 

Então, com um investimento de R$20 mil, o lucro aproximado seria de R$242 mil até o final de 2044. 

Ou seja, é um retorno financeiro semelhante ao do sistema fotovoltaico, porém que apresenta bem mais riscos para você, o investidor. 

Investir em energia solar ou aplicar dinheiro na poupança? 

Já a poupança é uma das opções mais seguras de investimento, mas tem baixa rentabilidade.

Considerando o mesmo valor de R$24.910,78 que seria gasto com o sistema de energia solar, o investimento na poupança, a uma taxa anual de 6,17%, traria um retorno total em juros de R$86.315,10.

Ou seja, o investimento na poupança traria um retorno duas vezes menor que o da instalação em energia solar.

Instalar um sistema de energia ou investir em CDB? 

O CDB (Certificado de Depósito Bancário) é um título de renda fixa emitido por bancos para captar dinheiro e financiar suas atividades.  

Você empresta uma quantia ao banco e ele te devolve junto com os juros acordados no momento do investimento. 

Considerando o investimento de R$24.910,78 mil no CDB, com rendimento calculado sobre uma taxa CDI de 9,35% ao ano, o retorno seria de R$145.455,31 ao final de 25 anos.

Novamente, aqui, o retorno do investimento em energia solar é mais vantajoso.

Energia solar ou investimento no Tesouro Direto Selic? 

A compra de títulos públicos federais pelo Tesouro Direto é uma alternativa de investimento que oferece diferentes tipos de rentabilidade (prefixada, ligada à variação da inflação ou à variação da taxa de juros básica da economia - Selic). 

Considerando um investimento com rentabilidade na taxa Selic, a uma taxa de 9,5% ao ano, o retorno financeiro seria de R$156.725,83 em um prazo de 25 anos, também menor que o retorno do investimento no sistema de energia fotovoltaica.

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